RECICLANDO SONHOS - MPT, Instituto e faculdade inauguram galpão e fábrica de vassouras para 70 catadores de Cajazeiras
25/02/2022 – Cajazeiras-PB – O Ministério Público do Trabalho na Paraíba (MPT-PB), o Instituto Maria José Batista Lacerda (IMJOB) e a Faculdade Santa Maria inauguraram, na última terça-feira (22), em Cajazeiras, no Sertão, um galpão de reciclagem e uma fábrica de vassouras que serão produzidas com garrafas pet para beneficiar diretamente 70 famílias de catadores de materiais recicláveis do município e região. Para esse projeto, com o objetivo de melhorar as condições de trabalho e ampliar a renda desses trabalhadores, o MPT destinou R$ 163 mil para construir e equipar o galpão na cidade.
Aos 58 anos, a catadora de material reciclável Josefa de Souza Martins, o seu marido José Martins e o filho Fábio viram um sonho antigo da família e da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Cajazeiras – ASCAMARC, sair do papel e se tornar realidade, com a inauguração do galpão de reciclagem. Agora, a Rua Vitória Bezerra, no bairro São Francisco, em Cajazeiras, é o novo local de trabalho dos catadores da ASCAMARC, sede que abriga sonhos e esperança de dias melhores.
“Antes, a gente trabalhava olhando pra cima. Se chovesse, corria todo mundo pra fora com medo de cair tudo em cima da gente. Tinha muita rachadura, não tinha luz nem banheiro. Agora tudo mudou com esse novo galpão e tenho fé que vai mudar muito mais”, revelou Josefa de Souza Martins, que é presidente da ASCAMARC. “Pensei que não viveria pra ver esse momento”, acrescentou, emocionada, durante a inauguração do galpão, que possui equipamentos adequados, cozinha equipada com móveis e eletrodomésticos, além de banheiro e um maquinário específico para fabricação de vassouras com garrafas pet.
O sonho de um lugar melhor para trabalhar com reciclagem também era compartilhado pela família da catadora Josefa de Jesus, 55 anos, outra associada da ASCAMARC, que também se encheu de alegria participando da inauguração. Ela e os outros catadores ganharam fardamento adequado, chapéu, luvas, EPIs.
Os R$ 163 mil foram destinados para duas etapas do projeto: construção do galpão e aquisição de equipamentos: prensa enfardadeira para reciclagem, empilhadeira, duas bicicletas elétricas, duas balanças, além de geladeira, fogão, micro-ondas, ventiladores de parede, mesa, cadeiras e máquina para fabricar vassouras.
A presidente da ASCAMARC acredita que o projeto vai melhorar a renda dos catadores, categoria muito vulnerável a doenças e sempre muito esquecida. “Hoje, a gente vende por mês e consegue uns R$ 300 pra cada catador, dependendo dos materiais. É muito pouco. Mas esperamos que melhore. Temos muita esperança”, concluiu Josefa Martins.
“Toda a sociedade deve ser parceira de projetos como este, porque é um interesse global reduzir a quantidade de resíduos que vai para os lixões indevidamente, que pode ser reciclada já no âmbito doméstico, no âmbito das empresas e dos condomínios, para melhorar a renda dos catadores e a qualidade de vida da sociedade como um todo”, pontuou o procurador do Trabalho Paulo Germano Costa de Arruda, que foi a Cajazeiras participar da inauguração do projeto.
Lixões: chaga aberta
“O poder público no Brasil vem, há mais de 10 anos, fazendo injunções junto aos municípios para acabar com os lixões, que é uma chaga aberta no Brasil. É preciso que haja, finalmente, uma resolutividade em relação aos problemas do lixão, tanto do ponto de vista ambiental para a preservação dos mananciais de água, do solo, do ar, como qualidade de vida, qualidade no trabalho e potencialização da renda dos catadores, que lidam diretamente com os resíduos e são importantes não só do ponto de vista econômico, mas para a humanidade, para a salvação do planeta e qualidade de vida”, observou o procurador Paulo Germano, acrescentando que empresas privadas e poder público também podem ser parceiros de projetos como este.
“O projeto é impactante tanto socialmente como economicamente. Uma mudança radical na vida deles. É um projeto de dignidade para os catadores. É um sonho que eles nunca pensariam em tornar realidade e graças ao MPT e a Faculdade Santa Maria agora se tornou realidade. É o recomeço”, ressaltou a assistente social e coordenadora executiva do Instituto IMJOB, Joanacele Nóbrega.
Filha de catadores se formou e mostrou realidade
Filha de catadores, a estudante Solange Aguiar, 24 anos, cresceu ouvindo dos pais que estudar e concluir um curso superior era um sonho quase impossível. Mas foi justamente por meio do estudo e do seu esforço que a jovem “rompeu esse ciclo” e se formou em Administração no meio da pandemia, em 2020. Ela retratou a realidade dos seus pais e das famílias que viviam da coleta de resíduos em Cajazeiras, em um trabalho da faculdade.
“Senti gratidão em realizar um sonho meu e dos meus pais. Agora, com a fabricação de vassouras terá uma renda extra”, revelou Solange, que acompanhou os pais Erinaldo Aguiar e Elisângela Maria na inauguração do galpão. Formada em Administração, ela já está trabalhando em uma empresa distribuidora de material hospitalar.
Solange desenvolveu a pesquisa “Qualidade de vida dos catadores de resíduos sólidos da cidade de Cajazeiras-PB: estudo de caso da associação dos catadores-ASCAMARC”. O tema resultou no seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), orientado pela professora doutora Pavlova Christinne Cavalcanti Lima. A professora e o Instituto IMJOB elaboraram o projeto que foi apresentado ao MPT. A iniciativa também tem como objetivo fomentar o espírito empreendedor nos catadores associados.
A inauguração
“É uma alegria muito grande realizar os sonhos desses catadores, uma comunidade tão vulnerável e que vem passando por tantas dificuldades. É você devolver a dignidade ao ser humano”, destacou a presidente do Instituto IMJOB e diretora da Faculdade Santa Maria, Sheylla Lacerda, durante a solenidade de inauguração do Galpão de Reciclagem em Cajazeiras.
Além de trabalhadores da reciclagem, participaram também do evento, na última terça-feira (22), a secretária do Meio Ambiente de Cajazeiras, Maria das Dores Alencar; o vice-prefeito da cidade, Marcos Antônio Gomes da Silva; a coordenadora executiva do IMJOB, Joanacele Nóbrega; a pesquisadora e integrante do IMJOB, Lindalva Alves Cruz e a professora doutora Pavlova Lima. Para respeitar todos os protocolos de segurança por causa da pandemia de Covid-19, o evento teve o número de participantes reduzido.
*Texto e fotos: Henriqueta Santiago
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