MPT-PB lança projeto que traduz normas de prevenção de acidentes em Cordéis e homenageia trabalhadores
Trabalhadores vítimas de acidentes dão exemplo de superação e são homenageados em evento no Cerast, serviço pioneiro no País para reabilitação de acidentados
Antônio Paulino da Silva, 68 anos, é serralheiro há 15 anos. Mas, nem mesmo toda experiência na área impediu que ele fosse vítima de um acidente de trabalho, há oito meses, em uma obra, em Campina Grande. “Estava colocando uma laje e tinha que abrir uma tábua. A ferramenta que estava usando não é pra cortar madeira. Aí, a maquita travou, a tábua travou e ela veio em cima do meu dedo. A pressa é inimiga da perfeição. A correria só dá nisso”, contou seu Antônio.
Após o susto e o trauma de perder o dedo, ele agora se recupera no Centro Regional de Reabilitação e Assistência em Saúde do Trabalhador (Cerast), serviço pioneiro e gratuito voltado a todos os trabalhadores, inaugurado, no mês passado, pelo Ministério Público do Trabalho na Paraíba (MPT-PB), em parceria com a Prefeitura de Campina Grande.
Como seu Antônio, pelo menos 14 trabalhadores são vítimas de acidentes de trabalho, todos os dias, na Paraíba.
Para tentar reduzir esses números, o Ministério Público do Trabalho na Paraíba (MPT-PB) lançou, na última quarta-feira (27), o projeto ‘NRs em Cordel’, como ação da campanha “Chega de Acidentes de Trabalho”. O projeto é inédito e traduziu as 36 Normas Regulamentadoras (NRs) de prevenção de acidentes, do Ministério do Trabalho, em 36 folhetos ou cordéis.
Houve homenagem a trabalhadores acidentados durante o evento, que aconteceu no Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho (27 de julho). A solenidade ocorreu no Cerast, com a participação do procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury; do procurador do trabalho coordenador nacional da Codemat, Leonardo Osório Mendonça; do procurador-chefe do MPT-PB, Paulo Germano, da secretária de Saúde de Campina Grande, Luzia Pinto, além de procuradores do Trabalho do Estado e outras autoridades.
Maior sonho: “Voltar a trabalhar”
“Senti um mal-estar e a cabeça caindo. Pensei que ia ter uma coisa grave. Não vi mais nada”, contou Sandro, que mora no município de Queimadas, próximo a Campina Grande. Ele pensou em desistir, mas a vontade de viver foi maior. Este mês, ele começou uma nova etapa da sua vida. Está sendo acompanhado pela equipe de profissionais de saúde do Cerast. E sabe qual o seu maior sonho? “Voltar a trabalhar”, revela.
Superação
Josefa de Freitas Soares, 45 anos, trabalhava na cozinha de um restaurante, em Campina Grande. Ela também entrou para as estatísticas de acidentes de trabalho. Perdeu uma parte do dedo e, com isso, os movimentos da mão. Mas supera um obstáculo a cada dia, em busca da recuperação e de uma nova vida.
“Na hora, pedi a Deus pra aguentar a dor, que era muito forte. Pensei que ia morrer de tanta dor e vendo a parte da minha mão na máquina. Mas a fé em Deus foi mais forte e hoje, eu estou aqui”, afirmou Josefa.
Já Ana Alves dos Santos, 61 anos, é costureira. Trabalhou quatro anos numa fábrica de calçados em Campina Grande. A atividade que ela exercia lhe rendeu problemas de postura.
“O doutor disse que agora só resolve com Fisioterapia. Aqui tem mais aparelhos, é mais organizado. A estrutura aqui é bem melhor. Depois dos exercícios, alivia muito”, disse Ana, que também está sendo atendida pelo Cerast.
O projeto em Cordel
As Normas Regulamentadoras (NRs) de prevenção a acidentes, do Ministério do trabalho, foram transformadas em 36 cordéis. O autor dos poemas é o poeta paraibano Rui Vieira, que é natural do município de Remígio e reside em Campina Grande.
“A ideia é disseminar esta conscientização para a prevenção dos riscos no ambiente de trabalho por meio de uma linguagem simples e bem regional”, explicou o procurador do Trabalho Marcos Almeida, idealizador do projeto ‘NRs em Cordel’, em parceria com o Cerest de Campina Grande, através da coordenadora geral Anna Karla Souto Maior e do coordenador adjunto Windsor Ramos da Silva Júnior.
“As ‘NRs em Cordel’ são um importante instrumento para o seu entendimento pelos trabalhadores, possibilitando a conscientização e prevenção dos acidentes de trabalho”, comentou o procurador-chefe do Trabalho na Paraíba, Paulo Germano Costa de Arruda.
Pioneirismo
O Cerast é pioneiro no país graças aos serviços oferecidos a trabalhadores que sofreram acidente ou são vítimas de doenças ocupacionais, que os impede de continuar as suas atividades.
“Um espaço como este representa economia para o governo porque repõe o trabalhador no mercado de trabalho mais rapidamente e desafoga a Previdência Social”, disse o procurador-geral do Trabalho Ronaldo Fleury.
Na última quarta-feira, ele também conheceu outro projeto apoiado pelo MPT-PB, o ônibus itinerante do Sine, que está percorrendo bairros e distritos de Campina Grande, oferecendo serviços à população de baixa renda.
Em um período de crise como este e de muitos desempregados, é essencial um trabalho como o ônibus itinerante, que busca o trabalhador nas mais diversas localidades”, ressaltou Ronaldo Fleury.
>>>DADOS ESTATÍSTICOS
NO BRASIL
7VIDAS SÃO PERDIDAS POR DIA - EM ACIDENTES DE TRABALHO
2TRABALHADORES FICAM INCAPACITADOS A CADA HORA
R$ 10 bilhões– são gastos, por ano, com encargos previdenciários no Brasil
(Fonte: Anuário Brasileiro de Proteção 2015, com dados do Anuário Estatístico da Previdência Social 2013)
5.016 -acidentes de trabalho foram registrados na Paraíba em 2013. Desses, 7,2%foram na Construção Civil, uma das áreas onde mais ocorrem casos, segundo o Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho.
Perda de 4% do PIB
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial (2,8 trilhões de dólares) são perdidos, por ano, em custos diretos e indiretos devido a acidentes de trabalho e doenças relacionados ao trabalho.
(Por Henriqueta Santiago)
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